Eleições para o Parlamento Europeu: derrota do governo, rejeição das
troikas
Os resultados das eleições para o
Parlamento Europeu realizadas em 25 de Maio justificam desde já alguns breves
comentários, que só poderão ser aprofundados quando houver conhecimento
pormenorizado dos resultados globais:
1- A expressão “eleições europeias” envolve um deliberado equívoco. No
fundamental, o que se passa neste dia é a coincidência no tempo de um conjunto
de eleições nacionais. Nenhuma instituição europeia assenta em verdadeira
representação democrática e a UE, tal como foi sendo configurada, é
inteiramente avessa a procurar a legitimação democrática das políticas que
impõe. Aquilo a que os media dominantes chamam “debate europeu” consistiu,
nestas eleições, em introduzir a mistificação acrescida de “candidato a
presidente da Comissão Europeia”. Todas as forças políticas que se prestaram a
colaborar nesta nova farsa são cúmplices da ampliação da mistificação
pseudo-democrática “europeia”.
2- Há em vários países
indicações de significativos fenómenos de deslocação de votos. Tais indicações
são insuficientes para que se procurem desde já identificar tendências,
nomeadamente no que diz respeito ao em qualquer caso preocupante reforço
eleitoral de forças de extrema-direita. Se existe sentido de conjunto em tais
fenómenos é que eles são característicos de períodos de crise geral do sistema
capitalista. E o que é fundamentalmente preocupante neles, mais do que a
dimensão que assumam em tal ou tal país, é o facto de constituírem uma clara
aposta da classe dominante em voltar contra si próprio o mal-estar e o desespero
popular.
3- Os resultados das
eleições no nosso país têm um inequívoco resultado nacional: a pesada derrota
sofrida pela aliança PSD/CDS (com uma quebra de mais de meio milhão de votos e
de mais de 12 pontos percentuais) reiterou a rejeição nacional deste governo ilegítimo apostado na destruição do
país. A permanência em funções de um tal governo representaria uma nova e
gravíssima afronta à vontade do povo português.
4- Se o governo PSD/CDS
foi alvo de clara condenação, não é menos significativo que os partidos da
troika nacional PS/PSD/CDS tenham, no seu conjunto, tido uma quebra de votação
de mais de 400 mil votos e uma queda percentual de perto de 8%. Bem quis o PS
apresentar-se nestas eleições com força de esquerda. Os ganhos que conseguiu
não compensaram as quebras dos outros partidos da política de direita. E, neste
sentido, é também essa convergência de projectos, programas e políticas que
estas eleições rejeitaram.
5-Os resultados da CDU representam um significativo reforço e progresso:
mais votos, maior percentagem, mais deputados eleitos. Resultados que são tanto
mais de valorizar quanto foram obtidos nas infelizmente já habituais condições
de desigualdade de tratamento, de silenciamento e de hostilidade por parte dos
grandes meios de comunicação, da profunda diferença de meios das candidaturas,
da instrumentalização das instituições do Estado por parte dos partidos do
governo. Mas sobretudo por constituírem um sinal de forte combatividade e
confiança num quadro de profunda crise económica e social, quadro este que a
história ensina ser profundamente desfavorável à determinação na luta e à mobilização
por uma verdadeira perspectiva de transformação social.
6- Os resultados destas
eleições não constituem uma clarificação suficiente da situação política
nacional e das perspectivas de saída da situação existente. Mas constituem um importante
passo em frente, um acréscimo de confiança para a luta de massas que, essa sim,
certamente acabará por derrotar de vez não apenas os governos mas a política da
direita que há quase quatro décadas vem condenando os trabalhadores à
exploração, o povo à pobreza, o país à dependência e ao atraso.
Os Editores de
odiario.info
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