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viernes, 3 de septiembre de 2010

Educação e política

Educação e política
Antonio Torres Montenegro


Publicado em 02.09.2010


Em época de eleições o tema da educação, saúde e segurança se torna alvo de muitos discursos dos candidatos. O governo federal e o estadual fizeram pela educação técnica e pela do terceiro grau o que nenhum outro governo havia realizado. Só para lembrar, há menos de uma década, muitos estudantes evitavam ingressar nas universidades federais em razão das constantes greves de professores. Naquele período, além da degradação salarial, havia uma deliberada política de desmonte dessas instituições ao não serem preenchidas as vagas docentes dos que se aposentavam ou faleciam, as edificações e os equipamentos não eram alvos de nenhuma reposição. Assim caminhávamos a passos largos para que a universidade se tornasse um mercado exclusivo da iniciativa privada. Este cenário mudou. Estabeleceu-se uma política salarial que já atende minimamente aos anseios dos docentes, como também os órgãos de financiamento à pesquisa e às pós-graduações tiveram seus recursos ampliados. 
No entanto, esse esforço em prol da educação técnica e do terceiro grau, não atingiu a educação pública fundamental, com raras exceções. Talvez, afirmem alguns, este é um problema que aflige Estados e não se encontra na alçada do governo federal. No entanto, ninguém hoje pode dissociar os problemas da violência - somos o nono País mais violento do mundo -, os problemas de saúde, do meio ambiente e a inexistência de uma escola pública de qualidade. Por outro lado, quando nem mesmo o piso nacional (em valores atualizados de R$ 1.312) do professor está sendo cumprido pela maioria dos Estados, é possível entender o porquê pouco se pode esperar dessa escola.


Este piso nacional projeta o profissional e a qualidade de trabalho que se espera. Para isto, basta avaliar no mercado trabalho quais as atividades profissionais que são remuneradas com esse nível salarial. Se pensarmos que o professor é um educador, e, portanto, deve ser submetido a um plano de estudo constante, tanto por meio de cursos de especialização, mestrado e doutorado como de outras formas de atualização do conhecimento, há que se reconhecer como esta é uma profissão exigentíssima. Ou seja, cobra um constante trabalho de reatualização do profissional. E o professor, enquanto educador, não é apenas um transmissor de conhecimentos, mas um profissional que deve ser referência de comportamentos e valores que colaborem com a formação dos futuros cidadãos. Por fim, a relação educacional significa incluir aqueles que se encontram envolvidos com os alunos fora da escola, porque educar é compor uma rede civilizatória instituinte de valores éticos compartilhados e aprendizagens diversas. Experiências enriquecedoras têm se revelado com a música, a dança, os esportes, entre outras práticas que envolvem as comunidades.


Fico a pensar que temos uma cultura que permeia discursos e práticas e impede romper o ciclo vicioso em que as pessoas reconhecem o valor da educação, porém a educação pública na prática apresenta-se destituída de valor. Afinal não há justificativa para a 8ª economia mundial ser classificada em 85ª em termos educacionais mundiais. Recordo um artigo, dos anos 60, quando os EUA investiam recursos e pessoal no Nordeste, numa clara intervenção imperialista. Um assessor americano, então, indagou a Celso Furtado, diretor da Sudene na época, porque se investia tanto na educação universitária e tão pouco na educação básica. Diz o artigo que Celso Furtado teria respondido que, no Brasil, primeiro se estava formando as elites e que depois é que se iria cuidar da educação. Será que realmente houve esse diálogo? 

Não sabemos. Mas que esse modelo se apresenta até hoje como dominante, não tenho dúvida.


Encerro com o relato do ex-aluno Homero Henrique da Silva: “Passei cinco anos lecionando na rede pública, mas no momento não estou mais me dedicando ao magistério. Bateu um desânimo muito forte. Não é só pelo dinheiro. Tem a violência, a falta de respeito ao professor, o sistema de avaliação que contribuiu para a perda de autoridade do professor e da qualidade de ensino, etc. Não sei se o senhor conhece o filme Treinador Carter. Tem uma cena, em que o treinador coloca os alunos na biblioteca da escola e apresenta uma série de dados estatísticos e conclui que aquela escola existe para que os alunos fracassem. É essa a minha percepção em relação a nossa escola pública. E todos esses modismos, essas novas pedagogias, só contribuem para a deteriorização da escola pública. 


Hoje, estou exercendo a função de escrivão de polícia. Como disse não é pelo dinheiro, mas é triste constatar que como escrivão ganho mais do que como professor, mesmo quando exercia a atividade de magistério em dois vínculos na rede pública de ensino, como professor concursado”. 


» Antonio Torres Montenegro é professor da UFPE

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